Um diretor da companhia está preocupado com o andamento dos negócios. As Vendas vão mal, os colaboradores estão insatisfeitos e há evasão na
carteira de clientes. Com o apoio de seus
pares, decide contratar uma consultoria empresarial¹,
honestamente determinado a reconquistar clientes, alavancar as vendas e revolucionar os resultados.
Empresas de consultoria multiplicam-se exponencialmente, ainda assim, duvido que seja
baixa a qualidade do serviço oferecido por boa parte delas. Por outro lado, é
preciso ter em mente que o escopo da empresa de consultoria é
limitado. Seus representantes visitarão a companhia, estudarão os processos e
metodologias vigentes e irão propor estratégias, ajustes e melhorias. O
processo de revisão crítica(sobretudo,
auto revisão) e consequente aculturamento das
novas estratégias não podem ser impostos pelo consultor. Mas quando há alguma
absorção, é grande a tendência a ser parcial e destorcida. Você já viu isto
(talvez já tenha até feito)! Um consultor, palestrante, ou mesmo uma matéria
sobre gestão de negócios ou recursos humanos, ensinou entusiasticamente sobre a
importância de delegar. Alguém (ou até mesmo você; lembre-se do texto inicial:
Precisamos ser honestos²) começa a disparar “delegados”. “XISmael. Tenho uma
reunião às quatro. Você vai no meu lugar.”, “ÍPSILONmar, preciso deste
relatório para terça”, “ZEraldo, resolva. Eu não quero problemas, quero
soluções!”.
Um curso de gestão de pessoas ou
um curso de coaching, se não forem superficiais, irão
transcender o simples “Aprenda a Delegar!” e explicarão
seriamente como proceder na prática. O Michaelis dá a dica e por mais óbvio que
pareça ser, é sempre bom relembrar: “Transmitir por delegação (poderes)” e
“Incumbir, investir na faculdade de”³. Mas o que é “faculdade”? É o “poder de
efetuar uma ação física ou mental”, uma “capacidade”, uma “função inerente ao
espírito”. Então observe e reflita:
Transmitir um poder, delegar uma responsabilidade, são ações sérias e
precisam ser realizadas com coerência lógica e visão
estratégica. O ato de Delegar não
pode ser confundido com um simples despejo de tarefas, jogando sobre outros
aquilo que não se deseja (ou não se gosta de) fazer enquanto retém outras
atividades pelo destaque que irão gerar ou por pouca confiança na equipe.
Fundindo
as descrições do dicionário podemos chegar à conclusão que delegar é
“Transmitir, incumbir, ou investir alguém com uma capacidade ou função inerente
ao seu próprio espírito”. Imagine-se transmitindo aquilo que é próprio do seu
espírito? Não é possível fazer isto sem confiar nos valores e na
responsabilidade daquele a quem se está delegando. E se você não confia na
equipe, melhor não delegar! Certo? Errado.
Se você não confiar no potencial de alguém, delegar será “transmitir capacidade”, pois o
desenvolvimento profissional dele também é responsabilidade sua.
Se você não confia em alguém por questões de postura, então ainda mais delegar será “transmitir -ou investir de- função
inerente ao espírito”, pois fomentar valores positivos é
seu dever profissional e social.
Quando se está envolvido em gestão de negócios é
muito fácil criar rótulos, caixinhas, e distribuir pessoas nestas categorias
expurgando aqueles que julgamos não ter perfil. No passado, após fazer alguns
testes em excel, fui recusado em um processo seletivo para uma importante
companhia nacional, talvez por alguém não ter acreditado que eu possuísse o
perfil esperado. Anos depois, sou responsável pela emissão de relatórios (cujos
dados são tratados preponderantemente em excel) que são expostos ao presidente,
ao conselho administrativo e aos dois órgãos reguladores aos quais a companhia
responde. Talvez eu não tivesse mesmo perfil ou experiência naquela época, mas
se tenho hoje as competências e habilidades necessárias para superar estes
desafios e mesmo para ter com você esta conversa, significa que em algum
momento alguém compreendeu mais profundamente o significado de delegar e me disse “faça”, não mais como um
simples despejo de tarefas, mas com confiança em meu potencial.
Cometi
erros? Muitos. E você estará exposto a eles, na mesma medida em que for delegando.
Mas quando delegamos com consciência do ato, acompanhamos, prestamos suporte,
orientamos, edificamos um novo patamar profissional em nossa equipe e uma
reação (cultural) em cadeia na companhia.
Pare imediatamente de delegar! Avalie-se honestamente! Avalie sua equipe
com sensatez! Comece a DELEGAR!
Notas:
1. E desde já me coloco à disposição para esta tarefa.
2. E é sempre bom retornar ao ponto inicial. Sempre que julgar pertinente,
leia Reinaugurando as BoasPráticas.
3. Fonte: http://michaelis.uol.com.br/ –
Acesso em 31/07/2015
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